sábado, 23 de abril de 2011

Ashtavakra Gita

(Ashtavakra Samhita)

Janaka (o Rei) disse:

Como o conhecimento é adquirido? Como a libertação é atingida? E como se chega à dissipação? Diga-me isto, Senhor.

Ashtavakra disse:

Se você está procurando libertação, meu mais querido, fuja dos objetos dos sentidos como do veneno. Beba o néctar da tolerância, da sinceridade, da compaixão, do contentamento e da honestidade.

Você não é nem terra, nem água, nem fogo, nem ar e nem mesmo éter. Para a libertação conheça a si mesmo como consistindo de consciência, a testemunha destes cinco.

Se você permanecer somente repousando na consciência, vendo-se a si mesmo como distinto do corpo, então mesmo agora você se tornará feliz, cheio de paz e livre das barreiras.

Você não pertence ao brâmane, ou ao guerreiro, ou a qualquer outra casta, você não está em nenhum estágio, nem você é algo que o olho possa ver. Você é livre e sem forma, a testemunha de tudo - agora seja feliz.

Retidão e não retidão, prazer e dor, são puramente da mente e não lhe concernem. Você não é nem o causador nem o sofredor das consequências; você está sempre livre.

Você é uma testemunha de tudo e está sempre totalmente livre. A causa da ligação é que se vê a testemunha como algo diferente disto.

Você foi picado pela serpente da auto-opinião, pensando tolamente que "eu sou o causador". Agora beba o néctar do fato de que "eu não sou o causador" e seja feliz agora.

Queime a floresta da ignorância com o fogo do conhecimento. Saiba: "eu sou a pura consciência". Com tais cinzas seja feliz agora, livre da aflição.

Aquele no qual tudo isto aparece é apenas imaginado como a cobra em uma corda. Aquela alegria, conhecimento supremo e consciência é o que você é, agora seja feliz.

Se alguém pensa em si mesmo como liberto estará livre e se alguém pensa em si mesmo como prisioneiro, estará preso. Aqui se está dizendo: "o pensamento faz a realidade".

Sua natureza real é alguém perfeito, livre e consciência inativa, a testemunha toda-penetrante, desligada de tudo, sem desejo, em paz. É ilusão que você pareça estar envolvido por qualquer outra matéria.

Medite sobre você como consciência imóvel, livre de qualquer dualismo, abandonando a idéia errônea de que você é apenas uma consciência derivada. Qualquer coisa externa ou interna é falsa.

Você tem estado preso há muito tempo na armadilha da identificação com o corpo. Corte-a com a faca do conhecimento de que "eu sou consciência" e seja feliz, meu mais querido.

Você é realmente ilimitado e inativo, auto-iluminado e sem manchas ainda. A causa de sua prisão é que você ainda está apelando para tranquilizar a mente.

Tudo isto está realmente preenchido por você e atado em você, porque consiste de pura consciência. Então não tenha "mente limitada".

Você é não-condicionado, sem forma, imóvel, consciência insondável, imperturbável. Uma tal consciência é não apegada.

Através desta iniciação em direção à verdade, você escapará de cair na não realidade de novo.

Verdadeiramente eu estou sem manchas e em paz, a consciência além da causalidade natural. Todo este tempo estive aflito pela desilusão.

Como eu sozinho dei luz a este mundo, então eu iluminei o mundo. Como resultado o mundo inteiro é meu e alternativamente nada é.

Então agora abandonando o corpo e tudo mais, de repente de alguma forma meu verdadeiro Eu se tornou aparente.

Como ondas, espuma e bolhas não são diferentes da água, também tudo isto que tem emanado do próprio Ser não é outro senão o próprio Ser.

Assim como a roupa quando examinada é descoberta como sendo apenas fio, também quando tudo isto é analisado, é descoberto que não é outra coisa senão o próprio Ser.

Assim como o açucar produzido pelo suco da cana está permeado com o mesmo sabor, também tudo isto produzido por mim está completamente preenchido por mim.

Da ignorância sobre si mesmo existe o mundo, e pelo conhecimento sobre si mesmo, ele deixa de existir. Da ignorância sobre a corda uma cobra aparece e pelo conhecimento sobre a corda a cobra deixa de existir.

O brilho é minha natureza essencial e eu não sou nada mais nada menos do que isto. Quando o mundo brilha adiante, é simplesmente eu que estou brilhando adiante.

Tudo isto aparece em mim, imaginado, devido à ignorância, da mesma forma como uma cobra aparece em uma corda, como a miragem da água sob a luz do Sol e como a prata na madre-pérola.

Tudo isto, que foi originado de mim, é transformado de volta em mim também, como uma cabaça se transforma em terra, a onda em água e um bracelete em ouro.

Quão maravilhoso eu sou! Glória a mim, para quem não há destruição, permanecendo mesmo além da destruição do mundo, desde Brahma até a última folha de grama.

Quão maravilhoso eu sou! Glória a mim, solitário! Mesmo que com um corpo, eu não vou nem venho de lugar algum. Eu permaneço para sempre, preenchendo tudo o que há.

Quão maravilhoso eu sou! Glória a mim! Não há ninguém tão hábil quanto eu! Eu criei tudo o que há, para sempre, sem mesmo que meu corpo fosse tocado!

Quão maravilhoso eu sou! Glória a mim! Eu possuo nada de tudo e alternativamente possuo tudo que a linguagem e a mente podem se referir.

Conhecimento, o que é para ser conhecido e o conhecedor - estes três não existem na realidade. Eu sou realidade pura na qual eles aparecem, manchada pela ignorância.

O dualismo é verdadeiramente a raíz do sofrimento. Não há outro remédio para ele do que a compreensão de que tudo o que alguém vê é irreal e que Eu sou a única realidade pura, consistindo de consciência.

Eu sou pura consciência, apesar de através da ignorância ter me imaginado como tendo atributos adicionais. Pela reflexão contínua disto, meu lugar de habitação é o Inimaginado.

Para mim, aqui não é nem prisão nem liberação. A ilusão perdeu sua base e cessou. Tudo isto verdadeiramente existe em mim, ainda que afinal de contas nem mesmo exista em mim.

Eu reconheci que tudo isto e o meu corpo não são nada, enquanto que o meu verdadeiro Ser não é nada além de pura consciência - então agora, sobre o que pode a imaginação trabalhar?

O corpo, o céu e o inferno, a prisão e a libertação, e o medo também, tudo isto é imaginação ativa. O que há para se fazer por aquele que cuja verdadeira natureza é a consciência?

Verdadeiramente eu não vejo dualismo mesmo em uma multidão de pessoas. Que prazer poderia ter quando voltasse ao ermo?

Eu não sou o corpo, nem o corpo é meu. Eu não sou um ser vivente. Eu sou consciência. Foi minha sede por viver que me prendeu.

Verdadeiramente é no oceano sem limite de meu Ser, estimulado pelas ondas coloridas dos mundos, que tudo repentinamente surgiu no vento da consciência.

Quão maravilhoso é que no oceano sem limite de meu Ser, as ondas de seres vivos surgem, colidem, vivem e desaparecem, de acordo com suas naturezas.

Conhecendo-se a si mesmo como verdadeiramente único e indestrutível, como poderia um homem sábio como você, alguém que possui auto-conhecimento, sentir qualquer prazer em adquirir riqueza?

Verdadeiramente, quando não se conhece o próprio Ser, tem-se prazer nos objetos da percepção errônea, da mesma forma que surge a cobiça pela aparente prata naquele que não conhece o que é madre-pérola.

Tudo isto brota como ondas no mar. Reconhecendo-se, Eu sou Isto, por que correr em círculos, como alguém com necessidade?

Após ouvir de si mesmo como pura consciência e a beleza suprema, continua-se a cobiçar sórdidos objetos sensuais?

Quando o sábio descobre que o Ser está em todos os seres e que todos os seres estão no Ser, será incrível se o senso de individualidade continuar.

É incrível se uma pessoa que alcançou o estado não-dual supremo e está tentando os benefícios da liberação, ainda estiver sujeito à cobiça e cair novamente no desejo de copular.

É assombroso que alguém já muito debilitado, e conhecendo muito bem que o interesse sensual é o inimigo do conhecimento, ainda procuraria ansioso pela "concupiscência", mesmo quando se aproxima os seus últimos dias.

É espantoso que um que não está apegado às coisas deste mundo ou no próximo, que discrimina entre o permanente e o transitório, e que anseia por libertação, ainda deve sentir medo de libertação.

Quem pode impedir a pessoa de grande alma que conhece esse mundo como a si mesmo de viver como lhe agrada?

De todas as quatro categorias de seres, de Brahma até a última moita de capim, só o homem de conhecimento é capaz de eliminar o desejo e a aversão.

Raro é o homem que conhece a si mesmo como o Senhor indivisível do mundo, e sem medo lhe ocorre que sabe de tudo isso.

Você não é limitado por nada. O que faz uma pessoa pura que você precisa renunciar? Colocando o organismo complexo para descansar, você pode ir para o seu descanso.

Igualdade na dor e no prazer, igual na esperança e na decepção, igual na vida e na morte, e completo como você é, você pode ir para o seu descanso.

Eu sou infinito como o espaço, e o mundo natural é como um jarro. Para saber isso é o conhecimento, e então não há nem a renúncia, a aceitação ou a cessação do mesmo.

Eu sou como o oceano, e a multiplicidade de objetos é comparável a uma onda. Para saber isso é o conhecimento, e então não há nem a renúncia, a aceitação ou a cessação do mesmo.

Como alternativa, eu estou em todos os seres, e todos os seres estão em mim. Para saber isso é o conhecimento, e então não há nem a renúncia, a aceitação ou a cessação do mesmo.

Se você pudesse ver as transformações dos elementos como nada mais do que os elementos, então você seria imediatamente libertado de todas as obrigações e estabelecido em sua própria natureza.

A natureza essencial da escravidão não é senão o desejo, e sua eliminação é conhecido como libertação. É simplesmente por não estar apegado a mudar as coisas que a alegria eterna da realização é atingida.

Realizar, "Eu não sou o corpo, nem é o meu corpo. Eu sou a consciência ", a pessoa atinge o estado supremo e já não se lembra de coisas feitas ou desfeitas.

Realizar, "É só eu, de Brahma até o último tufo de grama", torna-se livre de incertezas, puro, em paz e despreocupado com o que foi alcançado ou não.

Consciente de que todo este mundo variado e maravilhoso é nada, se torna uma receptividade pura, livre de inclinações, como se nada existisse, um encontra a paz.

Janaka disse:

Primeiro de tudo eu era avesso à atividade física, depois a longo discurso e, finalmente, a pensar em mim, razão pela qual estou agora estabelecido.

Na ausência de prazer no som e os outros sentidos, e pelo fato de que não sou eu mesmo um objeto dos sentidos, minha mente está focada e livre de distração - é por isso que estou agora estabelecido.

Devido à distração de coisas, como a identificação errada, somos levados a buscar a quietude mental. Reconhecendo esse padrão sou agora estabelecido.

A vida em comunidade, em seguida, vai além desse estado de meditação, e a eliminação de objetos fabricadas pela mente - por meio desses eu vi o meu erro, e agora estou estabelecido.

Assim como o desempenho das ações é devido à ignorância, então o seu abandono é muito. Ao reconhecer plenamente essa verdade, eu sou agora estabelecido.

Tentando pensar o impensável, está fazendo algo não-natural para o pensamento. Abandonando essa prática, portanto, estou agora estabelecido.

Yogis que se identificam com seus corpos são insistentes no cumprimento e evitando certas ações, mas eu vivo como eu quero, abandonando o apego e a rejeição.

Nenhum benefício ou perda vem a mim de pé, andando ou deitado, assim, consequentemente eu vivo como eu quiser se em pé, andando ou dormindo.

Eu perco o sono por nada e nada ganho com esforço, então consequentemente eu vivo como eu quero, abandonando a perda e sucesso.

Frequentemente observando os inconvenientes de coisas como objetos de prazer, eu vivo como eu quero, abandonando a agradáveis ​​e desagradáveis.

Aquele que por natureza é vazio e consciencioso, e que pensa das coisas não intencionalmente, é libertado como um despertar de um sonho.

Quando o meu desejo for eliminado, não tenho riquezas, amigos, sentidos, escrituras ou conhecimento?

Percebendo a minha suprema natureza própria, na pessoa da testemunha, o Senhor, e o estado de desejo em escravidão ou libertação, eu não sinto nenhuma inclinação para a libertação.

Os vários estados de quem está vazio de incerteza, e que aparentemente perambula como lhe agrada, como um louco, só podem ser conhecidos por alguém na mesma condição.

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