sábado, 2 de abril de 2011

S.R. Maharshi - Ensinamentos

MEDITAÇÃO E CONTROLE MENTAL.
“A meditação (dhyana) é uma batalha, pois constitui o esforço de manter-se em um pensamento, excluindo todos os demais. Outros pensamentos surgem e tentam afundar aquele pensamento objeto da meditação; quando este ganha força os outros desaparecem. O controle da respiração (pranayama) é para aquele que não consegue controlar diretamente seus pensamentos; tem a mesma utilidade que um freio tem para um carro. Contudo, não devemos parar com o controle da respiração. Após atingir o objetivo – acalmar a mente inquieta – devemos empreender a prática da concentração. Com o tempo, será possível deixar de lado o controle da respiração; a mente então se aquietará tão logo se tente a meditação. Quando a meditação está bem sedimentada, não mais podemos desistir dela. Continuará automaticamente durante o trabalho, lazer e outras atividades. Continuará até mesmo durante o sono. O meio de se estabelecer na meditação é a própria meditação. Nem o japa (repetição mental de palavras ou frases) nem um voto de silêncio se fazem necessários. Se a pessoa se envolve em atividades mundanas de cunho egoísta, de nada adianta um voto de silêncio. A meditação extingue todos os pensamentos e então só resta a Verdade.”

Noutra oportunidade, o Sábio disse: “Quando a cânfora queima, não resta nenhum resíduo. A mente deve ser como a cânfora: deve derreter-se e ser totalmente consumida pela decisão determinada de encontrar e ser o Eu Real. Mediante tal determinação, a Busca ‘Quem Sou Eu?’ se torna eficaz. Quando a mente for assim consumida – quando não restar nenhum vestígio da mente –ter-se-á dissolvido no Ser.”

Sendo-lhe perguntado como pode alguém encontrar seu Guru, o Sábio respondeu: “Através de intensa meditação.”

As pessoas que procuram resultados específicos da meditação não os conseguem, desencorajam-se, e concluem que a meditação não lhes trouxe proveito. A essas pessoas o Sábio diz: “Não importa nada se esses resultados foram obtidos ou não. A obtenção da constância é o principal. É o grande proveito. De qualquer modo, devem confiar em Deus e esperar sem impaciência por sua Graça. A mesma regra se aplica ao japa também; japa feito mesmo uma vez traz proveito, quer a pessoa esteja consciente disso quer não.”

Alguns pensam que se deve continuar praticando a meditação, mesmo após a Iluminação. Essa questão é esclarecida da seguinte maneira: “Quando a mente se extingue no Estado sem ego, então nem há concentração nem não-concentração”. Referindo-se à mesma questão, o Sábio disse em outra ocasião: “Quando o Ser é realizado, não é possível nem tentar o samadhi nem abandoná-lo”.

O êxito na meditação vem rapidamente a poucos, e depois de longa prática para os outros. Sobre tal questão o Sábio diz: “As vasanas (propensões ou tendências mentais) impedem a meditação, portanto esta só se torna eficaz através do enfraquecimento progressivo das vasanas. Certas mentes são como a pólvora que pega fogo e se consome imediatamente: outras se assemelham ao carvão, e outras ainda são iguais ao combustível molhado.”

O segredo do controle mental é esclarecido na seguinte resposta: “A mente não pode ser controlada por alguém que julga que ela seja algo que realmente existe; nesse caso, a mente se comporta como um ladrão que finge ser um policial perseguindo o ladrão. Esforços feitos dessa maneira servem apenas para dar um novo alento de vida ao ego e à mente”. O método adequado é investigar a verdade da mente e do ego, o que leva à Busca.

Em outra ocasião, o Sábio disse: “Pessoas me perguntam como controlar a mente. Eu respondo: ‘Mostre-me a mente’. A mente nada mais é do que uma série de pensamentos. Como pode a mente ser controlada por um daqueles pensamentos, isto é, pelo desejo de controlar a mente? É tolice tentar acabar com a mente através da própria mente; a única maneira é encontrar a Fonte da mente e segurá-La. Então a mente desaparecerá por si só. O Yoga prescreve o chitta-vritti-nirodha (supressão dos pensamentos); eu recomendo Atmanveshana (Busca do Eu), a qual é praticável. A mente é contida [em algumas ocasiões], como no desmaio, ou como resultado do jejum. Mas logo que a causa é removida, a mente revive, isto é, os pensamentos começam a fluir como antes. Há apenas dois modos de controlar a mente: ou buscar a sua Fonte, ou renunciar a mente, deixando que o Poder Supremo a destrua. A entrega é o reconhecimento da existência de um Poder Supremo. Se a mente se recusa a auxiliar na busca da Fonte, deixe-a ir e espere que retorne: então a dirija para o íntimo. Ninguém obtém êxito sem paciente perseverança.”

A meditação com os olhos fixos no espaço entre as sobrancelhas, o Sábio nos adverte, pode resultar em medo. A maneira certa é fixar a mente somente no Ser. Não conduz ao medo.

Outra coisa que aprendemos é que não pode haver meditação – no sentido usual do termo – no Ser. Meditação é normalmente concebida como pensar em um objeto; isso implica em distinção entre sujeito e objeto e, portanto, não é possível meditação sobre o Ser. O que é chamado meditação nada mais é do que afastar os pensamentos, pelos quais o Ser fica oculto. Quando todos os pensamentos são dissipados, o Ser brilha em Sua Natureza real: permanecer nesse estado é a única meditação do Ser que pode haver. O Sábio, pois, está sempre em meditação, embora possa parecer estar frequentemente envolvido com outras atividades.

COMO LIDAR COM O SOFRIMENTO.
“Voltando a mente para dentro, vencer a pior das mágoas. O sofrimento só é possível quando consideramos que somos o corpo. Se a forma é transcendida, saberemos que o Ser é eterno – que para ele não existe nem nascimento nem morte. É apenas o corpo que nasce e morre, não o Ser. O corpo é uma criação do ego, que, contudo, nunca é percebido independente do corpo – na verdade, o ego é inseparável do corpo. Devemos considerar que no sono não temos consciência da existência de um corpo; assim, percebemos que o corpo não é real. Ao despertarmos do sono, surge o ego e, depois, os pensamentos. Descubra a quem os pensamentos pertencem. Pergunte de onde se originam. Devem surgir do Ser, que é a Consciência. Compreender essa Verdade, mesmo vagamente, ajuda na extinção do ego; com ela, a Existência infinita é alcançada. Nesse Estado não há indivíduos – apenas o Ser único. Portanto, não há espaço nem mesmo para o pensamento da morte.

“Se alguém julga que nasceu, não pode deixar de pensar na morte. Portanto, que ele se questione se realmente nasceu. Então, descobrirá que o Eu Real tem existência eterna, e que o corpo é apenas um pensamento – o primeiro de todos os pensamentos, a raiz de todas as perturbações.”

OS TRÊS ESTADOS DA MENTE.
A mente é alternadamente sujeita a três estados: o estado de sonolência ou inércia, chamado tamas, é o mais baixo; o seguinte, mais elevado, é o de atividade inquieta, chamado rajas; o superior é o de clareza e paz, chamado sattva. O Sábio nos diz que o discípulo não deve lamentar ou lastimar o predomínio dos dois primeiros, mas esperar até que surja o estado de clareza e, então, tirar o maior proveito dele.

A MORTE.
“Na verdade os mortos são felizes, tendo se livrado do pesadelo que é o corpo. Os mortos não sofrem. Os homens temem o sono? Não, procuram-no e preparam-se para ele. O sono é a morte temporária, e a morte nada mais é do que um sono prolongado. Se o homem, enquanto vivo, morrer a morte que não é morte, através da extinção do ego, ele não mais sofrerá pela morte de ninguém. Uma vez que sabemos que existimos continuamente através de todos os três estados – com o corpo e sem o corpo – por que deveríamos desejar a continuação dos grilhões físicos para nós mesmos ou para os outros?”

“Quando alguém está nos começando a morrer, a respiração se torna difícil. Isso significa que a pessoa se tornou inconsciente do corpo moribundo; a mente logo toma posse de outro corpo e oscila entre os dois, até que o apego se transfira totalmente para o novo corpo. Nesse ínterim, há violentas respirações ocasionais, indicando que a mente hesitantemente retornou ao corpo moribundo. Esse estado de transição da mente é semelhante a um sonho.”

OS ANIMAIS POSSUEM ALMA?
O Sábio trata os animais da mesma forma com que trata os seres humanos. Ao falar de um animal usa sempre os termos que usaria para referir-se a um ser humano, “ele” e “ela”. Uma vez perguntaram-lhe se os animais não eram inferiores aos homens, e ele respondeu: “Os Upanishads dizem que os homens, enquanto ficarem sujeitos ao ego – ou seja, até se conscientizarem do puro Ser –, não passam de animais. Pode até ser que os homens sejam piores do que os animais.”

Bhagavan também disse que almas muito avançadas podem ter ocupado corpos de animais a fim de viver no ambiente de seu eremitério. Havia, certa vez, quatro cães que viviam lá, e demonstravam muitos sinais de devoção. Por exemplo, quando se lhes oferecia alimento, eles não o tocavam até que o próprio Sábio tivesse sido servido e iniciasse sua refeição. Logo que o Sábio começava a comer, eles também o faziam, mostrando a sua peculiaridade quanto a esse aspecto.

PRÁTICAS DEVOCIONAIS.
“Práticas como o japa e outras semelhantes são preferidas por muitos, por serem mais concretas. Mas o que é mais concreto do que o Ser? Ele está dentro da experiência direta de cada um e de todos, e é experienciado em cada momento. Portanto, o Ser é a única coisa que é incontestavelmente conhecida. Assim sendo, devemos procurá-Lo e achá-Lo, em vez de buscar algo desconhecido – Deus ou o mundo.”

SAMADHI E SUA INTERPRETAÇÃO.
“A experiência que São Paulo obteve e que o converteu à fé em Cristo foi realmente uma experiência transcendente ao mundo das formas. Mas, posteriormente, ele a identificou como a visão do Cristo.” Respondendo à objeção de que Paulo tinha sido anteriormente um perseguidor de Cristo, o Sábio disse: “É irrelevante se o predominante tenha sido amor ou ódio; o que importa é que o pensamento de Cristo estava lá. O caso foi semelhante ao de Ravana e outros demônios.”

COMO DEVEMOS AGIR NO MUNDO?
“Devemos agir no mundo como um ator no palco. Em todas as ações há no fundo o Eu Real como princípio sustentador. Lembre-se disso e aja.” (K. Lakshmana Sarma)

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