segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A dor é sobreposta ao silêncio? - Tudo surge no silêncio.


"A dor é sobreposta ao silêncio?

Tudo surge do silêncio.

Então o silêncio é constante e a dor é, de alguma forma, estranha?

Quando você fala de dor, alguém sente esta dor, um “alguém” que aparece do silêncio. A dor é uma percepção que nós, geralmente, evitamos sentir mediante um muito rápido processo de conceituação. Como o conceito de dor e sua percepção não podem ocorrer simultaneamente, devemos abandonar a ideia e sentir a percepção pura. Ao sermos conscientes da sensação, sendo seu conhecedor, nós estamos fora da dor, ou mais precisamente, a dor aparece em nossa observação, em nosso silêncio sempre presente.

Há diversos modos de relacionar-se com a dor. Geralmente, tendemos a evadi-la ou a dirigi-la de alguma maneira, mas então ficamos nela enredados através do esforço da vontade. Quando simplesmente observamos e permitimos que a dor se expresse, a energia estabelecida como dor se torna fluida. No olhar puro, não há ninguém, nenhum ego dirigente, e esta energia, não encontrando lugar algum para se localizar, reintegra-se à totalidade.

É importante para você aprender a viver com a dor. Nunca a conceitue. Eu lhe darei um exemplo do que quero dizer. Se você se sente cansado e diz a si mesmo “Estou cansado”, identifica-se instantaneamente com a fadiga. Esta identificação faz de você um cúmplice deste estado, com isso, você o sustenta. Mas se você descansa e permite que a fadiga se expresse, ele se torna um objeto de sua observação. E, como você não é mais um cúmplice dela, o sentimento de cansaço se dissolve rapidamente e você se sente completamente descansado.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

A Canção da Mente

Hsin-ming por Niu-t'ou Fa-jung (594-657)

A natureza da mente é não-surgimento;
Que necessidade há de conhecimento e visões?
Originalmente, não há um único fenômeno;
Por que discutir inspiração e treinamento?

Vindo e indo sem início;
Ao ser procurada, não é vista.
Não há necessidade de fazer coisa alguma;
É brilhante, calma, auto-aparente.

O passado é como o espaço vazio;
Conheça qualquer coisa e o princípio básico é perdido.
Lançando uma luz clara sobre o mundo,
Iluminando, porém obscurecida.

Se a mente unidirecionada for impedida,
Todos os fenômenos serão mal compreendidos.
Vindo e indo assim,
Há necessidade de investigação completa?

Surgindo sem a marca do surgimento,
Surgimento e iluminação são o mesmo.
Desejando purificar a mente,
Não há mente para o esforço.

Através do tempo e do espaço, nada é iluminado;
Isto é o mais profundo.
Conhecer os fenômenos é não-conhecer;
Não-conhecer é conhecer o essencial.

Usando a mente para manter a quietude,
Você ainda falha em deixar a doença.
Nascimento e morte esquecidos —
Esta é a natureza original.

domingo, 3 de agosto de 2014

Krishnamurti - O Sublime

Uma experiência de bem-aventurança

A imaginação perverte o percebimento de o que é; no entanto, como nos orgulhamos de nossa imaginação e de nosso especular. A mente especulativa, com seus pensamentos complicados, não é capaz de transformação fundamental; não é uma mente revolucionária. Vestiu-se como deveria ser e está seguindo o padrão de suas próprias projeções limitadas, confinantes. O que é bom não está no que deveria ser, mas na compreensão do que é. A mente tem de por de lado toda imaginação e especulação para que o Real tenha existência.

Ele era moço ainda, mas chefe de família e conceituado homem de negócios. Parecia muito preocupado e atribulado, e ansioso por dizer alguma coisa.

"Há tempos ocorreu-me uma experiência verdadeiramente extraordinária, e como nunca relatei a ninguém não sei se sou capaz de a descrever com clareza para você; espero que sim, pois não há ninguém mais a quem possa me dirigir. Essa experiência arrebatou-me completamente o coração; entretanto, foi-se e dela só me resta a vã lembrança. Talvez você possa ajudar-me a captá-la novamente. Vou relatar-lhe com a possível exatidão o que foi esse estado abençoado. Tenho lido a respeito dessas coisas, mas tudo o que li não passava de vãs palavras, que só me falavam aos sentidos; o que me aconteceu foi uma coisa fora da esfera do pensamento, da esfera da imaginação e do desejo, e eu a perdi. Rogo-lhe para que me ajude a recuperá-la". Calou-se por um instante, e continuou:

"Uma certa manhã despertei muito cedo; a cidade ainda dormia e seus rumores ainda não haviam começado. Senti-me impelido a sair; vesti-me rapidamente e saí para a rua. Nem sequer o caminhão do leite havia começado a circular. A primavera estava em início e o céu era de um azul pálido. Apoderou-se de mim um forte sentimento de que deveria ir ao parque, distante cerca de uma milha. Desde o instante em que transpus a porta da rua, veio-me um estranho sentimento de leveza, como se estivesse caminhando no ar. O edifício fronteiro, um desgracioso conjunto de apartamentos, perdera toda sua fealdade; até os tijolos pareciam mais vivos e luminosos. Todo objeto insignificante, que eu de ordinário não teria sequer notado, parecia dotado de uma qualidade extraordinária, peculiar e, coisa estranha, tudo parecia parte de mim mesmo. Nada estava separado de mim; com efeito, o "eu", como observador, como percipiente, tinha-se ausentado, se você percebe o que quero dizer. Não havia "eu" separado daquela árvore ou do jornal jogado na sarjeta ou das aves que chamavam umas às outras. Era um estado de consciência que eu nunca antes experimentara."

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A Imaginação

S. Nisargadatta Maharaj

Nada morre. O corpo é apenas imaginado. Não existe tal coisa.


Quando você não exigir nada do mundo, nem de Deus, quando você não quiser nada, não buscar por nada, e não esperar nada, então o Estado Supremo virá até você sem ser convidado, e inesperado.

Um sábio comanda uma forma de percepção espontânea, não sensorial, a qual o faz conhecer as coisas diretamente, sem a intermediação dos sentidos. Ele está além do perceptual e do conceitual, além das categorias de tempo e espaço, nomes e formas. Ele não é nem o percebido nem o percebedor, mas o fator simples e universal que torna a percepção possível.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

S. N. Maharaj‏ - Ignorância/desatenção

A Atenção como fuga às ilusões...

Não existe isso de ignorância, apenas desatenção. Além do mais, a preocupação é um estado de dor mental, e a dor é, invariavelmente, um chamado por atenção. No momento em que você dá atenção, o chamado por isso cessa e a questão da ignorância se dissolve. A atenção o traz de volta para o presente, o agora, e a presença no agora é um estado sempre à mão, mas raramente percebido.

Aprender as palavras não é o suficiente. Você pode conhecer a teoria mas, sem a experiência atual de si mesmo como o centro impessoal e sem atributos da existência, amor e bem-aventurança, o mero conhecimento verbal é estéril.