terça-feira, 5 de abril de 2011

Desejos e Medos... (cont.2)

O que evita a percepção da própria verdadeira natureza de cada um, é a fraqueza e a estupidez da mente, e sua tendência de evitar o sutil e focar apenas o grosseiro. Quando você segue a minha sugestão e tenta manter a mente apenas na noção de 'Eu Sou', você se torna plenamente consciente da sua mente e de seus devaneios. A consciência, sendo harmonia lúcida em ação, dissolve a estupidez, aquieta a agitação incessante da mente e, gentil mas firmemente muda sua própria substância. Essa mudança não precisa ser espetacular; pode ser dificil de perceber. Mesmo assim é uma mudança profunda e fundamental da escuridão para a luz, da inadvertência para a consciência. Por esse motivo, mantenha firmemente no foco da consciência a única pista que você tem; a certeza de Ser. Esteja com ela, brinque com ela, pondere sobre ela, mergulhe profundamente nela, até que a concha da ignorância se quebre e você emerja no reino da realidade.

O que muda não é real, o que é real não muda. Agora, o que existe em você que não muda? Enquanto houver alimento, haverá corpo e mente. Quando o alimento cessa, o corpo morre e a mente se dissolve. Mas e o observador, perece? É uma questão de experiência atual que o Self tem sua existência independente da mente e do corpo. É existência-consciência-bem-aventurança. Consciência de ser é bem-aventurança.

Da maneira que você pensa a si mesmo, assim você pensa que o mundo é. Se você se imagina como separado do mundo, o mundo parecerá separado de você, e você experimentará desejo e medo. Eu não vejo o mundo como separado de mim, e assim não há nada para eu desejar ou temer.

Antes da mente, Eu sou. O 'Eu sou' não é um pensamento na mente; a mente aparece para mim, eu não apareço para a mente. E desde que o espaço e o tempo estejam na mente, eu estou/sou além do tempo e espaço, eterno e onipresente.

Sem a auto-realização você será consumido por desejos e medos, que se repetirão cegamente em um sofrimento sem fim. A maioria das pessoas não sabe que a dor pode ter um fim. Mas uma vez que elas tenham ouvido as boas notícias, obviamente ir além de toda essa azáfama e luta é a tarefa mais urgente que pode haver. Você sabe que você pode se libertar, agora é com você. Ou você permanece para sempre faminto e sedento, agarrando-se, retendo, sempre perdendo e sofrendo, ou você se empenha de todo o coração e cai fora em busca do estado de perfeição intemporal ao qual nada pode ser adicionado, do qual nada pode ser tirado. Nele todos os desejos e medos estão ausentes, não porque se desistiu deles, mas porque eles perderam seu significado.

Fique em silêncio e observe o que vem à superfície da mente. Rejeite o conhecido, dê boas vindas ao desconhecido e rejeite-o por sua vez. Dessa maneira, você chega a um estado no qual não há conhecimento, apenas Ser, no qual Ser em si mesmo é conhecimento. Saber por Ser é conhecimento direto. É baseado na identidade entre aquele-que-vê e o visto. O conhecimento indireto é baseado na sensação e memória, na proximidade entre o percebedor e o percebido, confinado ao contraste entre os dois.

No Hinduísmo, a própria idéia de livre arbítrio é não-existente, assim não há uma palavra para ela. Vontade, ou arbítrio, é compromisso, fixação, prisão.

(S. N. Maharaj)
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